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A imagem, o comportamento e o posicionamento profissional

Quando penso no mundo corporativo lembro imediatamente do meu pai. Ele trabalhava num ambiente formal. Naqueles tempos, já década de 80, pouco se falava sobre esses assuntos. A internet ainda era algo distante. Os equipamentos mais modernos eram o fax e o telefone sem fio.


A vestimenta era tradicional. Camisa, calça social, sapatos com a meia da cor da calça, limpos e lustros (aos sábados ele retocava a pintura de todos eles para semana seguinte). Suas camisas não tinham manchas, os tons suaves. Todas as peças eram cuidadosamente passadas pela minha mãe, ou mandadas para a lavanderia, o que era um luxo.


Recordo que antes de ler o jornal, ele tomava banho, fazia a barba e deixava o traje pronto. Mas só vestia a camisa antes de sair para que não amarrotasse ou ficasse com manchas de suor. Saia de casa pontualmente às 7h, deixando seu cheirinho de pai. Assim era o ritual de todos os dias. Era meticuloso, em tudo. Falava calmamente em português correto com uma entonação ideal. Se preocupava não apenas com a qualidade do trabalho, mas em como se posicionar, sempre com humildade e respeito.

As coisas foram mudando depressa, a tecnologia veio com força para nos abrir as portas do mundo. Celulares, internet e computadores. Era o futuro diante dos nossos olhos.


Os rituais se mantiveram os mesmos. A roupa não era sinônimo de vaidade ou demanda social, era distinção. Assim como o jeans índigo vestia os operários das fábricas na Rev. Industrial, e como distinguia soldados e fuzileiros navais, ou mesmo as mulheres solteiras e com filhos em tempos mais distantes.

Na empresa em que meu pai trabalhava os operários vestiam macacões cinza chumbo que distinguiam cada um na sua hierarquia, mas davam conta de uma política organizada e extremamente bem definida pela corporação. Havia padrões. No processo de internacionalização recebiam e enviavam executivos de várias nacionalidades para o mundo inteiro.


O chão da fábrica era cinza, como o uniforme. Dessa maneira, não se percebia que estavam sujos de graxa. O logotipo era bordado em vermelho, branco e azul, tal como estampado também nas jaquetas que usavam no fim de semana, que expressavam o orgulho de pertencer aquele universo. Todos desejavam trabalhar ali, pois essa empresa era sinônimo de alto padrão, em tudo. Seu refeitório era limpo e organizado, com cardápio variado; as salas e antessalas elegantemente decorados com móveis de madeira escura. Eu adorava ir lá, era fino, um ambiente calmo, as vezes intimidador, de tão formal.


Não se tratava, contudo, somente de formalidade. A mensagem era muito clara. Nas ações, na forma como tudo ali se colocava. E a conduta do profissional tinha altíssimo peso e valor, com ampla possibilidade de se expressar, de se colocar e de se destacar. Diferente de hoje?! Não muito.


Passamos por tanto desde aquela época que não surpreendem os comportamentos incoerentes com o ambiente profissional, o excesso e a má qualidade da informação, e talvez de informalidade. Há uma certa confusão de valores. Parece até que a imagem, os padrões e as exigências não são os mesmos. Na realidade, não acho. Penso que tudo está mais atrelado ao comportamento, a mensagem e ao posicionamento, elementos que deveriam ser considerados no todo por todos. Significa que no âmbito profissional, deveríamos agir de forma muito mais cautelosa, preocupando-se com cada passo da nossa trajetória, do início ao fim, todos os dias, e não apenas quando atingimos determinados objetivos. A ideia é ir além, buscando a nossa melhor performance, a melhor imagem, a melhor forma de comunicarmos estrategicamente – mesmo quando houver adversidades.


Segundo a especialista em Gestão de Pessoas, Daniela P. Scalabrin, o perfil profissional é adaptável, mas é praticamente impossível ao longo do tempo não demonstrar ou mostrar a nossa essência, aquilo que acreditamos e temos como valores.


Na entrevista, diz a especialista, busca-se falar da trajetória, resultados e comportamentos passados, que fizeram parte do caminho. Nesse processo é possível observar as diferenças de perfis: o que fala demais, no anseio de mostrar todos os seus conhecimentos e resultados alcançados; o que se perde em si mesmo, e não dá espaço para o outro, se mostrando o perfil dono da razão, e até ansioso; o nervoso, que não controlando a emoção, coloca tudo a perder, sem conseguir falar das suas competências, trajetória e resultados. E não é só na entrevista, ela ressalta que ao longo da trajetória profissional, também é possível identificar os comportamentos, em relação aos quais somos constantemente avaliados.


O protagonismo de carreira é importante tanto para conseguir a tão almejada vaga, quanto no decorrer do contrato de trabalho, mas, também para se manter e mais que isso, para crescer e se desenvolver. Nesse ponto, ressalta Daniela é possível observar a acomodação ou a delegação para a empresa, só faço o curso ou a formação ou o idioma se a empresa promover ou subsidiar, por exemplo, o que é catastrófico.

Da mesma forma, o posicionamento e postura profissional, pois segundo opina Daniela, a imagem é a primeira que fala, sendo importante estar alinhada ao tipo de negócio e posição do ocupante. Além da imagem, o posicionamento no dia a dia, dar opinião, entender do negócio, se relacionar bem, contribuir para um ambiente saudável e colaborativo.


E por fim, arremata a energia ok, uma vez que temos os dias ruins, mas que sejam pontuais e trabalhados emocionalmente quando for necessário, porque essa energia é fundamental para a performance, os relacionamentos, a marca que queremos passar.


A nossa marca, portanto, como resultado da imagem e do nosso comportamento são imperativos no âmbito profissional. Estou me referindo aos rituais, a mensagem que desejamos transmitir, ao profissional meticuloso, como era meu pai, cujas ações seguiam um padrão condizente com os seus objetivos, seu caráter, seus valores. Tudo isso em perfeita harmonia com a política estabelecida e definida pela empresa. Pois passe o tempo que for, seja aonde você estiver, os padrões serão decisivos para determinar até aonde você deseja chegar. E vai longe quem se destaca na medida certa, demonstrando habilidades técnicas, emocionais e o tão conhecido bom senso.


Escreveram em colaboração Daniela P. Scalabrin – Especialista em Gestão de Pessoas e Erika S. Sebben – Consultora Estilo Pessoal e Corporativo

Recentemente, a discussão sobre magreza extrema voltou aos holofotes no mundo da moda. Preocupante e desnecessário?! Sim, e muito, mas uma realidade que de certa forma sempre se manteve presente, ainda que de forma velada.

Na perspectiva da mídia e dos veículos de moda um retrocesso, já que o mercado por um tempo até tentou se adaptar a “diversidade corporal” proporcionando às mulheres em geral o que antes somente as próprias modelos ou as mais magras poderiam usar. Na minha opinião estratégia puramente comercial.

Para as mulheres, que sofrem diretamente essa influência, hoje majorada pela enxurrada de informações propagada pelas mídias sociais, a reviravolta com certeza vai causar estragos, já que a busca pela intangível perfeição estética, ou o mais próximo dela, pode fazer valer todo o tipo de sacrifício. Segundo a especialista em nutrição Dra. Laisa Rocha “A ditadura da magreza impõe dietas extremamente restritivas, que, além de comprometerem a saúde mental, podem levar a sérias deficiências nutricionais e problemas de saúde a longo prazo. Carências de vitaminas e minerais essenciais, queda de imunidade, perda de massa muscular e até danos metabólicos são algumas das consequências frequentes”.

Esse outro lado da realidade, porém, lamentavelmente fica em segundo plano. O debate normalmente gira em torno da inclusão/exclusão, aceitação ou não da mulher plus size. O que mais preocupa é que nesse cenário a discussão não é vista no âmbito da saúde que é de fato o que deveria ser o centro das atenções. Por isso, devemos ter presente que o ponto de partida de uma dieta e do autocuidado deve ser a própria pessoa, jamais a opressão. Na opinião da nutricionista Dra. Laisa Rocha, “Do ponto de vista nutricional, é fundamental abordar a saúde de maneira integral, compreendendo que a busca por padrões estéticos muitas vezes ignora os aspectos biológicos e emocionais que sustentam o equilíbrio do corpo. A alimentação equilibrada, rica em nutrientes, é uma das ferramentas mais poderosas para alcançar um corpo saudável, independentemente do número no manequim”.

De fato, essa obsessão é retrógrada e na minha opinião está na contramão do que aquilo que a moda pode proporcionar, que é a felicidade. Mas, quem está realmente preocupado com a saúde e o bem estar físico de tantas mulheres – bem estar esse que é a válvula propulsora de todo o restante?
O sobrepeso é latente e crescente. A comida é feita para engordar e viciar. A rotina do dia a dia, a carreira, os maus hábitos (álcool, tabagismo, dieta descontrolada, falta de exercícios). Todos esses fatores convergem para um contexto insustentável. E o que se percebe mais uma vez? A discussão voltada tão somente para o “retrocesso comercial” ou o “preconceito” com mulheres acima do peso. A realidade é que a obesidade e a dificuldade de emagrecer estão presentes nos consultórios e clínicas de estética. E lamentavelmente tudo ainda está atrelado única e exclusivamente a aparência ou aceitação de quem não se encaixa em padrões comerciais.

Daí você pode se perguntar, mas para o mundo fashion, do estilo, do glamour da beleza e da imagem a chave de tudo não é a
aparência? Na própria consultoria de imagem, esse não é um dos aspectos relevantes a serem considerados? E, via de consequência, se estamos magras ou gordas demais para estar adequadas à moda?
Exato. Justamente esse o problema, porque em detrimento da estética e das imposições comerciais, a saúde não é uma prioridade. As mulheres compram roupas menores, deixam de sair de casa, e de enfrentar a realidade em razão do peso. Isso é real!

Mais do que aceitação por si só, seja no mundo da moda ou fora dele, o enfrentamento é o caminho mais correto a ser trilhado. Significa dizer voltar-se para o problema, considerando-o no aspecto mais relevante. “Como nutricionista, reforço que a alimentação equilibrada não deve ser uma punição, mas sim um ato de cuidado e respeito consigo mesma. Dietas radicais e promessas de resultados rápidos não são sustentáveis nem seguras. O segredo está em construir hábitos saudáveis que respeitem a individualidade, promovam energia e bem-estar e, principalmente, preservem a saúde mental e física” pontua Laisa.

“Cuidar da saúde significa respeitar o corpo como ele é hoje, enquanto se trabalha para alcançar objetivos que fazem sentido para cada mulher, de forma sustentável e amorosa. Mais do que um número na balança, a nutrição deve promover vitalidade, energia e longevidade. Quando priorizamos a saúde, a estética torna-se uma consequência natural de um corpo bem cuidado e feliz” ressalta a nutricionista.

A nós profissionais da moda, esse cenário tão mutante e muitas vezes cruel, cabe proporcionar às mulheres o discernimento e conforto emocional necessários para fazer o básico com o próprio corpo, considerando o que somos e o que vamos escolher ser daqui para frente. Isto é, ninguém precisa estar vestindo manequim 36 para se sentir bem e dar um passo além. Significa que essa busca insana pela magreza precisa dar lugar a uma necessidade maior, de cuidar de si. Isso por si só irá nos proporcionar a vitalidade e o bem estar responsáveis pelo equilíbrio emocional que será a base para enfrentarmos a realidade, deixando-nos seguras e à vontade para o bem vestir.

Não existe roupa ou artifício capaz de mascarar os problemas emocionais gerados pelo descontentamento com próprio corpo, que refletem o autoabandono. Mas, se a saúde estiver sob suas rédeas, o resto vai ser consequência, mesmo que nem tudo seja perfeito sempre.
Com a saúde e as emoções em ordem, o quebra-cabeça do dia a dia vai se encaixando naturalmente e nós não precisamos estar preocupadas com o peso, pois o corpo saudável gera confiança e bem estar, o que é o bastante para alavancarmos a nossa vida.

Portanto, opina Laisa Rocha “para quem busca um acompanhamento nutricional, meu convite é: abandone as promessas milagrosas e invista em um processo consistente, baseado no autoconhecimento e no cuidado com você mesma. Afinal, a verdadeira beleza vem da confiança que emerge de um corpo saudável, nutrido e em harmonia com suas emoções”.

Então, não faça promessas ou planos absurdos. Planeje algo coerente com a sua vida. Procure atendimento nutricional e foque na sua saúde. Certamente, quando você estiver se sentindo melhor, seja usando manequim 36, 48, 50, a imagem e o que você quer transparecer vão ser consequência natural da sua mudança de vida, sem apego única e exclusivamente a essa ditadura ultrapassada, que precisamos superar independente do que a moda queira nos impor.
Que nos seus projetos você esteja em primeiro lugar por você mesma, por mais nada e mais ninguém!

Erika S. Sebben, Consultora de Imagem e Laisa Rocha Siman, Nutricionista

A ditadura da magreza está de volta?

Não se renda a esse apelo fora de moda

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